Você já parou para sentir como o canto dos pássaros ressoa em suas emoções? Independentemente de espécies e raças, os sons podem ser agradáveis e transmitir sensações como paz e serenidade. Há, inclusive, estudos que mostram o poder do som em reduzir a ansiedade. Uma pesquisa sobre saúde mental realizada pelo Instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano publicou, na última década, na revista Scientific Reports, que ouvi-lo “é capaz de reduzir a ansiedade e os pensamentos irracionais, assim como a paranoia”.

Criar pássaros em casa exige conhecimento sobre espécies permitidas e cuidados com o bem-estar do animal. Foto: stock.adobe.com
Por este motivo, além da beleza de diferentes espécies, milhares de pássaros são criados fora de seu habitat natural. De acordo com o Ibama, até 2023, o Brasil contabilizava 444 mil criadores registrados. No entanto, a autarquia mostra que apenas 254 mil (57%) estavam com a licença em dia.
E o que esses dados mostram? Que os pássaros exóticos e silvestres, proibidos por lei de serem criados em gaiolas, por exemplo, estão vivendo em condições não permitidas por lei.
O que diz a lei
De acordo com a Lei de Crimes Ambientais, de número 9.605/98, manter aves nativas em cativeiro sem autorização é crime. Em seu artigo 29 reforça que matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, pode resultar em pena de detenção pelo período de 6 meses até um ano.
“A primeira observação a ser feita é que existe uma lista do Ibama de quais espécies são autorizadas. As que não estão nesta lista, para serem criadas como pet, que chamamos de pet não convencional, elas precisam estar anilhadas e, sobretudo, com autorização da autarquia”, explica o médico veterinário Caio Reimão.
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Para além da lei, no entanto, é importante ter conhecimento sobre como criá-los. De acordo com o veterinário, criar pássaros em gaiola, mesmo aqueles permitidos por lei, que dispensam autorização do Ibama, demanda cuidados específicos para manter a saúde e qualidade de vida do animal. “É importante que o pássaro tenha uma área delimitada para não se machucar, especialmente as menores, como canário e calopsita, que podem colidir com vidros e espelhos, por exemplo. Se a criação for em gaiola, um espaço saudável demanda enriquecimento ambiental, já que naturalmente são caçadores e estão sempre em busca de comida. Se a gaiola não contar, portanto, com elementos que os distraiam, ficarão entediados. Para que isso não aconteça, a dica é sempre oferecer uma gaiola com espaço, em que o pássaro consiga abrir as asas com folga. Além disso, colocar verduras escuras, brinquedos como rodinhas – as calopsitas, por exemplo, adoram – e pensar em soltá-los sob supervisão em ambientes controlados”, recomenda.
Quando o amor pela natureza fala mais alto
O designer Daniel Gentil conta que no local onde morava anteriormente com a esposa e seus dois cães, recebiam diariamente visitas de beija-flor, o que encantava a família pela beleza e movimento da ave. Até que, há cinco anos, o “Beijinho”, apelido carinhoso que deu a um dos visitantes, parou na rede de sua varanda do apartamento que ficava no primeiro andar. Sua decisão foi crucial para salvar a vida e a liberdade da ave. “O Beijinho chegou e ficou parado na tela da sacada. Meu primeiro impulso foi tocá-lo, mas resisti e recolhi a mão. O que achei estranho é que ele não saiu de onde estava, mesmo eu quase pegando nele. Percebi que algo estava errado, pois mesmo assobiando, chamando e ‘ameaçando’ diversas vezes tocá-lo, ele não saía. Não estava preso, estava apenas parado. A primeira coisa que fiz, então, foi acionar o CeMaCAS, que é Centro de Manejo e Conservação de Animais Silvestres. Na época, morávamos em São Paulo e esta foi a primeira ideia que tive. Não soube o que aconteceu com ele, mas sei que entre tocar no pássaro ou mesmo decidir criá-lo, acionei o órgão que tem competência para cuidar que ele retornasse ao seu lugar natural”, relembra.
Ter contato com pássaros e seus cantos faz bem à saúde, como mencionamos anteriormente. Mas o ideal é que essa relação não aconteça por meio do aprisionamento do animal. Portanto, caso decida criar um pássaro, consulte o Ibama para estar de acordo com a lei, e um médico veterinário para oferecer a vida que eles merecem.