O comportamento dos animais de estimação, especialmente cães e gatos, é um campo fascinante de estudo que intriga muitos tutores. Compreender o que se passa na mente dos amigos peludos pode ser fundamental para fortalecer o relacionamento entre humanos e os pets e lidar com possíveis desafios comportamentais.

Observar as expressões dos pets é essencial para entender emoções como medo, alegria e ansiedade, fortalecendo a relação com os tutores. Foto: stock.adobe.com
Animais de estimação, assim como os seres humanos, têm personalidades únicas e podem reagir de maneira diferente a várias situações.
Para estudar esse universo comportamental, em 1960, o professor Walter Hugo de Andrade Cunha, introdutor da Psicologia Animal e da Etologia no Brasil, passou a estudar e pesquisar os caminhos do desenvolvimento e os desdobramentos dessa área, tanto no ensino quanto na pesquisa. De acordo com a Pesquisa FAPESP, revista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, na mesma década, o psicólogo liderou a construção do laboratório de Psicologia Comparada da USP, que sediou o primeiro programa de pós-graduação em etologia e comportamento animal do Brasil. Ele defendeu sua tese, depois publicada em livro com o título Explorações no mundo psicológico das formigas (Ática, 1980), e começou a orientar os primeiros alunos de pós-graduação em comportamento animal.
Embora os estudos tenham sido iniciados há pouco mais de 60 anos, os desafios sobre o comportamento animal ainda existem, especialmente pelo avanço do movimento pet parenting (pais de pets, em português) no país. Para além desse cenário, a pandemia, e todas as suas imposições como método de segurança, impulsionou novos estudos e pesquisas com foco na saúde e bem-estar animal.
Dedicado ao estudo do comportamento e emoções dos animais, o Núcleo de Apoio à Pesquisa em Expressão das Emoções no Homem e nos Animais (NAP), da USP, publicou em julho de 2022 um recorte do Projeto “Leitura de emoções a partir das expressões faciais de cães por humanos” e mostrou que Tina Bloom, em seu doutorado sob supervisão de Harris Fridman (2010), fotografou a face de um pastor belga Malinois, macho de 5 anos, em situações comportamentais previamente definidas visando provocar as emoções básicas descritas por Ekman e Friesen (1976, 1978): alegria, tristeza, surpresa, nojo, raiva e medo.
PUBLICIDADE
No estudo, algumas hipóteses levantadas mostraram, por exemplo, que a sobrancelha acentuada e branco do olho esclera visível mostram maior intensidade de algumas emoções, como tristeza e medo, em cães.
De acordo com um estudo sobre ansiedade em cães, publicado pela Escola Cummings de Medicina Veterinária, da Universidade Tufts, nos Estados Unidos, um cão ansioso, por exemplo, pode ofegar, andar de um lado para o outro, tremer, babar, afastar-se do dono ou esconder-se. Alternativamente, eles podem parecer irritados e agressivos (ou seja, latir ou rosnar para alguém). Além disso, também podem se demonstrar afetuosos e extremamente amigáveis, se aproximando continuamente do tutor, ou mesmo pulando recorrentemente em visitas, por exemplo.
Ainda segundo o estudo, a melhor maneira de prevenir a ansiedade é garantir que os cães tenham socialização e exposição adequadas, de uma forma não estressante, a uma variedade de situações novas durante o estágio de desenvolvimento, que acontece entre três e 14 semanas de idade.
O mesmo estudo da escola de medicina veterinária, recomenda que para lidar e até prevenir a ansiedade em cães adultos, é importante ter consistência e previsibilidade na rotina do cão, exercício e estimulação mental apropriados à idade, raça, interesses e saúde do pet, além de boa compreensão e respeito pela linguagem corporal e sinalização social de um cão. Treinamento adequado e, principalmente, respeito pelas necessidades do cão de ser acariciado ou não, de descansar, de comer em paz, de passar tempo sozinho e com as pessoas, somados aos cuidados médicos, são imprescindíveis para a qualidade de vida, saúde e bem-estar desses pets.